(momento prosa)
São 4:30 da manhã. Vou contar o que aconteceu na noite do dia 11 pro dia 12. Costumo contar vivências pessoais - e este texto não será diferente -, mas não quero que tomem como desabafos, mas como paralelos (não perguntem, é isso e pronto rsrs). Este aqui considero até mesmo um "conto de poder", que é - de acordo com Carlos Castaneda - como se chamam as histórias que os guerreiros toltecas contavam aos seus aprendizes para os levar ao poder, à liberdade. E antes de qualquer comentário, essas histórias aconteciam também com não-guerreiros :o)
Tinha uma rolinha que resolveu chocar seus dois ovinhos no vaso do alpendre da minha casa. Minha mãe não achou ruim e resolveu deixar a rolinha lá, pelo tempo que fosse necessário pros passarinhos se "emanciparem".
Como o vaso ficava suspenso, pendurado pelo teto, ela poderia ficar mais segura dos gatos que costumavam perambular e cagar pelo alpendre às noites. E por alguns dias ela ficou lá sem problema nenhum.
Na noite mencionada, eu saí pro alpendre pra preparar o carro. Tinha me esquecido completamente da rolinha, e, enquanto voltava pra dentro pra pegar algo que eu tinha esquecido, sem querer esbarrei na planta do vaso e ela se assustou. Começou a voar num ponto do alpendre, querendo sair mas não sabendo como. Eu entrei em casa pra ver se ela se acalmava, até que ela parou de fazer barulho. Voltei pra fora, conferi no vaso e no carro, mas nada. Fui achar ela acuada no chão, no outro canto do alpendre, e abri o portão pra tirar o carro. Ela não saiu de lá.
Quando dei partida no carro, fiquei preocupado de passar por cima dela e saí do carro, com ele ligado, pra ver se ela ainda estava no mesmo canto, mas não, ela estava um pouco mais perto do portão, camuflada pela cor do chão.
Foi nesse momento que apareceu um gato branco a uns três metros dela, olhou-a, parou por um breve segundo e, num piscar de olhos, correu até ela, abocanhou-a, e saiu correndo. Isso a menos de um metro de onde eu estava.
Tentei assustar o gato, a rolinha ainda conseguiu se desprender dele por umas duas vezes, mas sem chances; ele sempre conseguia pegar ela no ar. E assim sumiu de vista.
Minha mãe e minha vó ficaram consternadas com o gato, chamaram de filho da puta, disseram que iam colocar veneno pra ele e etc, mas ficou por isso mesmo.
A questão que me coloquei é que as tais "boas intenções" não tem poder algum diante do acaso, totalmente impessoal. Nessa história, as "boas intenções", ao final das contas, acabaram se tornando a raiva e o assombro de uma pessoa diante dessa impessoalidade, o desejo de culpar o ato instintivo de um animal e cometer a mesma "atrocidade" que julgou estar nele, como se isso fosse para autenticar um protocolo; uma maneira de negar sua falta de controle diante desse tal destino.
Estou eu preocupado com o inimigo errado? Isso não é importante, mas também não é desprezível. Sem saber, posso estar caminhando com minhas próprias pernas em direção àquilo que realmente quero evitar, e é isso que o acaso impessoal pode estar preparando pra mim, e que nenhum cuidado ou caridade poderão evitar. O gato branco está a espreita de todos, sem excessão, e é pra ele que iremos um dia. É necessária a sobriedade de não procurar culpados, pois há um destino aí pra aceitar, sem qualquer sombra de acomodação ou inação... como uma condição, não uma maldição.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
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