quarta-feira, 31 de março de 2010

nem que tenha que sujar
as mãos
nem que tenha que contar
seus "nãos"
nem que venha a me sentir
um monge
nem que venha a sussurrar
de longe
nem que tenha que pagar
a língua
nem que tenha que me ver
à míngua
nem que seja numa lua
cheia
nem que seja pr’uma volta
ou meia
nem que venha a me fazer
garboso
nem que tenha que sorrir
nervoso
nem que acabe por verter
em dor
nem que venha a desbotar
a cor
nem que passe a remexer
escombros
nem que seja para dar
de ombros
nem que tenha que morrer
na praia
nem que passe a ser da sua
laia
nem que tenha que cortar
os pulsos
nem que venha a reprimir
impulsos
nem que seja pra perder
o trem
nem que seja pra dizer
que vem
nem que tenha que engolir
o choro
nem que tenha que gritar
em coro
nem que tenha que rasgar
a roupa
nem que queira jogar fora
a polpa
nem que seja pra cantar
de galo
nem que seja pra quebrar
no talo
nem que queira caçoar
me ouça
já que sou quem vai lavar
a louça
no momento pelo qual
me calo

Nenhum comentário:

Postar um comentário