em talvez raras ocasiões na vida, os atos ganham um peso incomum. uma surpresa. nada é como era antes e o mundo ainda é o mesmo. os atos são os mesmos mas, incrivelmente, nada mais é de mentira. apenas num momento assim que uma certa figura de olhos pretos poderia fazer seu pedido tão simples com aquela voz firme:
- cante uma música, agora!
- "venham venham todos, ver o palhacinho..."
- outra música! rápido, rápido, sem pensar!
- "quando me dizes em segredo que me queres, e meu olhar..."
- outra!
- "você, é algo assim, é tudo pra mim..."
- isso! agora continue cantando e vá girando devagar, dê uma geral de 360 graus na sala. veja se há algo nela que pode te ajudar.
- "...é como eu sonhava, baby..."
e girou. não parou de cantar um segundo sequer. se não sabia o resto da letra, repetia. conforme foi girando, foi observando o salão com atenção e pensando: o que pode ser? passou por várias fotos da infância de cada um de seus amigos pregadas na parede. foi observando uma a uma, cantando e girando, quando topou com a sua própria foto. tinha uns 4 anos de idade naquela foto, que, como em toda criança de 4 anos que se preza, o rosto leve, sem preocupações, sorria à toa, assim como viu em todas as fotos dos seus amigos...
nesse momento, engasgou e não conseguiu mais cantar. tentou uma vez mais, mas não conseguia, a voz não saía, era difícil cantar. percebeu que os versos da música (que por sinal, não gostava) evocavam algo tão enterrado em si naquele momento específico, que sentiu-se pedante e pequeno por ter um dia usado suas velhas frases feitas aprendidas em tão curta vida para falar mal dela!
- "sou feliz... agora... não, não vá embora...".
mas foi embora. continuou girando e deixou a foto pra trás.
foi o suficiente pra ouvir a figura de olhos pretos parar com toda aquela palhaçada. parou de cantar, uivando igual um coiote cruzado com uma desgraça, e percebeu muito bem onde tinha errado.
- o clown não iria até ali pedir ajuda?
- sim, mas é claro que iria.
- não foi desta vez que você conseguiu de fato mudar as coisas.
domingo, 12 de junho de 2011
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Mas o nariz vermelho nunca será extinto...vc pode tentar, e buscar e sonhar e cantar!!!! Canta...canta que ele vem, meu doce sabiá!
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